Sobre destino e outras coisas

O mundo é um lugar pequeno.

Pelo menos foi isso o que diferentes pessoas me disseram em diferentes fases da minha vida. O mundo é um lugar pequeno e isso faz de Londrina um lugar ainda menor. Nunca acreditei muito nesse negócio de destino e toda essa baboseira de amor verdadeiro. Sempre pensei em destino como uma coisa que pudesse sustentar mentes férteis e iludidas. 

Ainda me lembro do dia em que precisei deixar a pequena cidade em que cresci e me mudar para a cidade conhecida como pequena Londres. Eu cheguei a pensar que, ao me mudar para uma cidade nova, eu poderia recomeçar e deixar o passado para trás. Na minha cabeça, eu dificilmente me encontraria com um pedaço da minha antiga vida estando em uma cidade grande como essa.

No entanto, o mundo é um lugar pequeno, não é mesmo?

E diante de mim está o dono dos olhos cor de café amargo mais gentis que um dia conheci. Seu sorriso sedutor e sugestivo me fazem pensar que por mais que não estivesse esperando me encontrar aqui, ele não ficou nada surpreso e, muito menos, decepcionado em me ver.

Sua camisa amassada somada à gravata com um nó frouxo me dizem que a cidade tem sido tão gentil com ele como tem sido comigo nos últimos meses. Não consigo evitar e, automaticamente, encaro meus pés descalços na grama úmida e os sapatos de salto alto presos em meus dedos da mão esquerda. 

Engraçado, os anos passaram, mas tenho aquela sensação estranha e aconchegante  no peito quando me lembro de todos os momentos que passamos juntos.

O fato de ter passado o dia todo presa em um evento sem fim me faz lembrar que meu cabelo encaracolado não deve estar muito melhor que o dele, e que ao contrário do seu sorriso fácil e olhos brilhantes, o cansaço deve estar estampado em minha face.

Um dia inteiro dedicado a participar de palestras entediantes e infinitas, eventos longos e obrigatórios que me fizeram substituir as roupas básicas pelos terninhos sofisticados que quase valem metade do meu salário. O dia foi longo e quando finalmente pensei que poderia enfim relaxar em um dos bancos de frente para o grande lago, pensando em nada que fosse minimamente importante, ele apareceu.

Ele que foi meu primeiro namorado. Ele que esteve presente em meus sonhos durante tanto tempo e fez parte de tantos planos possíveis e impossíveis. Ele que foi tão importante na minha adolescência e começo da vida adulta...

Até que deixou de ser.

Entre decisões importantes, viagens irrecusáveis e corações partidos, nos desencontramos. E tão logo nos encontramos de novo, um ciclo viciante que sempre me fez pensar que, talvez, estivéssemos destinados a fazer parte da vida um do outro. Mesmo que distantes de tempos em tempos, os encontros eram como um lembrete de que havia uma forte ligação entre nós.

Não consigo evitar um sorriso de felicidade genuína ao encarar o homem à minha frente e recordar que da última vez que nos encontramos, selamos um acordo de que se nos encontrássemos novamente, não haveria desencontro. 

Deveríamos aceitar nosso destino e ficar.

Autoria: Giovana Bolognesi


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